domingo, 15 de maio de 2011

(Há)bismos

haver (ha-ver)


v.i. (impes.) Existir.
Suceder, acontecer; ocorrer:

Me espera chorar. –ele disse.
Me espera derramar o último vestígio de ti. Espera pra ver que quando saíres daquela porta, eu conseqüentemente hei de cair de uma altura inestimável. Não espero que me segures, mas espero que veja em que abismo me meti. O ato de ir ao precipio só não é mais lastimável do que a duvida de me jogar. Entreguei-me de malas prontas a teu ser. Sem carta de recomendação, fui amante traído. Sem carta de rescisão,fui subjugado e subvertido. Já não eram mais os verões que eram frios, mas nossas palavras que já não eram mais quentes. Já não se tratava de um céu cinzento, mas de uma neblina suja que impairava sobre nossas cabeças. O curativo que já não escondia mais, o que de fato já não havia. Estancou-se o sangue e tudo que havia ao redor era submetido a uma dor certeira e constante. Em meu lugar, ocuparam-se de dúvidas, enquanto que em teu lugar assentaram-se questões. Pedaços de seu ser eram inevitavelmente costurados e dilacerados ao longo do tempo. A agulha transpassava na dor e na esperança de que juntássemos os restos de seu ego inquebrantável. As cores saturadas tomavam corpo por dentro da insolação daqueles dias que se arrastavam e tropeçavam enquanto que nossas vidas ruíam. Tudo perdera sabor como quem perde dignidade. A felicidade do mundo se tornara cada vez mas hipócrita enquanto que a honestidade assemelhava-se ao enjoô. Não me cabia mais tamanho ser desconhecido dentro de mim apelidado de eu mesmo. Saí na esperança de que um ser ainda sobrevivesse até perceber que a alma de ambos já haviam sido devidamente depositadas no caixão da vida. Daquelas vidas que respiram já sem alma e carregam eternamente a carcaça da dor, achei-me em uma delas.